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A verdade é que, no fundo, a dor do outro nunca importa. A gente finge que importa. Lança um “força aí” no grupo do WhatsApp, manda um emoji de coração, curte o desabafo alheio nas redes sociais como se fosse um vídeo engraçado de cachorro. Mas, no íntimo, a vida segue como se nada tivesse acontecido. Porque a dor do outro, para muita gente, é só um ruído de fundo. Um incômodo breve, um post que logo será soterrado por fotos de viagens, pratos instagramáveis e frases motivacionais de autoajuda barata.
Vivemos uma era em que sentir virou fraqueza. Se você chora, é drama. Se você reclama, é mimimi. Se você diz que não está bem, já vem alguém com o famoso combo de desprezo: “Tem gente pior que você”, “Levanta dessa cama, a vida continua”, “Você tem que ser forte”. Como se dor tivesse uma tabela de comparação. Como se tristeza tivesse um prazo de validade.
O problema é que ninguém quer parar. Ninguém quer olhar nos olhos de quem sofre. Preferimos o conforto raso de um conselho pronto do que o desconforto real de escutar de verdade. Ser empático dá trabalho. Exige tempo, exige presença. E, convenhamos, quem tem tempo hoje em dia? A gente tem agenda para tudo, menos para ser humano.
O materialismo virou o anestésico da nossa geração. Compramos, consumimos, acumulamos… tudo para não olhar para o lado e perceber que tem alguém ali, quebrado por dentro. E quando olhamos, é para julgar. Tiramos sarro, fazemos piada, soltamos um “frescura”. Porque é mais fácil rir da dor do outro do que encará-la de frente. Afinal, se a dor do outro me incomoda, talvez eu precise encarar as minhas também. E isso dá medo.
Mas a verdade crua é que a dor do outro importa. Importa muito. Porque amanhã pode ser você. Porque ninguém está imune a um dia ruim, a uma perda, a uma crise. Porque o mundo já é duro demais para que a gente seja mais uma pedra no caminho do outro.
Falta coragem. Coragem para ouvir. Coragem para acolher. Coragem para dizer: “Eu não sei como ajudar, mas estou aqui”. Falta empatia. Falta gente disposta a ser abrigo e não tempestade.
Talvez seja utopia, mas eu ainda insisto em acreditar: se a gente parasse de medir a dor dos outros com a régua da nossa indiferença, o mundo seria um lugar um pouco mais respirável. Não perfeito. Não sem sofrimento. Mas, pelo menos, com menos solidão.